Por Toninho Vital
A classificação do Cruzeiro ontem, após um dramático 2×1 no tempo normal e uma vitória por 5×4 nas penalidades máximas contra o Boca Juniors, é mais do que um avanço às quartas de final da Copa Sul-Americana. Para aqueles que viveram a gloriosa trajetória do Cruzeiro no continente, representa muito mais: é a retomada de um caminho que parecia perdido, o reencontro com uma grandeza que sempre esteve presente, mas que foi temporariamente ofuscada.
Vimos o Cruzeiro, um clube que outrora reinava no cenário internacional, ser saqueado por ex-dirigentes, afundar em uma crise que nos lançou na Série B por três anos. Foram tempos de incerteza, de dor, de medo pelo futuro. No entanto, cinco anos após a queda, aqui estamos novamente, eliminando um dos clubes mais tradicionais do continente e do mundo, o Boca Juniors. Uma equipe que personifica a resistência, que se alimenta das dificuldades, e que, mesmo jogando com um homem a menos por mais de 90 minutos, conseguiu equilibrar o jogo, nos desafiando até a última cobrança de pênalti.
Para nós, que vivemos os anos 90 e suportamos os anos de incerteza, essa vitória é a prova de que o Cruzeiro está de volta. É a confirmação de que aquelas noites mágicas de Copa, que tantas vezes nos emocionaram, podem ser vividas novamente. Foi uma noite que lavou a alma daqueles que, por tanto tempo, carregaram o peso das glórias passadas e das derrotas recentes contra os argentinos.
Mas não foi apenas para nós, os mais velhos, que essa noite significou algo especial. Fiquei pensando muito nas crianças, nos relatos que recebi de pais sobre seus filhos, de oito, nove, 10 anos, que ontem, pela primeira vez, viveram a emoção de uma disputa de pênaltis do Cruzeiro. Crianças que choraram, que se emocionaram, que sentiram pela primeira vez o que é ter o coração na boca durante um confronto tão decisivo. Para essa nova geração, foi uma noite mágica, uma daquelas que eles levarão consigo para sempre.
Essas crianças, que por tanto tempo ouviram falar das nossas histórias, das nossas glórias, agora tiveram a chance de vivenciar, de sentir na pele o que é ser Cruzeiro em uma noite de Copa. Para elas, foi uma experiência única, o início de um relacionamento duradouro com o futebol, com o clube que, por tantos anos, desbravou esse continente.
O Cruzeiro sempre foi um clube copeiro, e ontem provou que essa essência não se perdeu. A classificação contra o Boca foi mais do que uma vitória; foi a reconexão com a nossa identidade, a lembrança de quem somos e do que somos.
Saudações Celestes!